O que deve prevalecer em um projeto? A beleza arquitetônica ou os aspectos de manutenibilidade? Quando falamos em compatibilização de projetos, não estamos nos referindo apenas em comparar os documentos relativos às questões de estrutura, hidráulica, elétrica, etc. Nesse caso, pensamos também em analisar e combinar todos os sistemas construtivos de modo a facilitar e promover o acesso adequado e seguro nas etapas de uso e manutenção.
Para deixar a discussão mais compreensível, vejamos um exemplo que ocorre com as fachadas. No momento da demonstração e escolha dos modelos, nos são oferecidos itens e designs lindos, que se destacam, que são os mais modernos do mercado… o que pode fazer os olhos do cliente leigo brilharem, convencendo o comprador que esta é a melhor opção apenas pelo aspecto estético.
Não se pode negar que fachadas recuadas são lindas, pórticos são imponentes, requadros são artifícios arquitetônicos interessantes para aplicação de diferentes materiais, mas como acessar, como rejuntar, como vedar periodicamente as suas esquadrias?
Esses detalhes, quando não são bem projetados, podem se transformar em algo assombroso com o tempo, não só pelo aspecto externo, como também pelo interno, principalmente pela falta de manutenção, um comportamento responsável pelo surgimento de manifestações patológicas que poderiam ser evitadas.
Diante disso, durante a etapa de projeto, quando pensamos em uso e manutenção, é necessária a previsão de acessos adequados para as atividades de reparo, ou você acha que o morador de uma cobertura vai consentir com todo e qualquer acesso ao telhado ser feito pelo interior do seu apartamento? ou ainda por dentro de um de seus quartos, só pelo simples fato de que a beleza sobrepôs aos aspectos de manutenção?
Recentemente, fizemos uma perícia em um prédio muito bonito, porém o pórtico era composto por uma viga que faz com que o prestador de serviço ande em uma “corda bamba” para acessar o equipamento, não sendo previsto, no mínimo, um balancim. Logo, é de conhecimento geral a exposição ao risco para a montagem de cada equipamento e a elevada possibilidade de um acidente, entretanto, apesar de haver ciência desse tipo de perigo, aparentemente, para a construtora, isto não tem a devida importância.
E quando está previsto no projeto o tal “requadro” e/ou “fachada recuada”, como será possível alcançá-los?
- Pela janela do apartamento?
- Contratando o “homem- aranha” para uma possível manutenção?
Brincadeiras à parte e voltando à seriedade do tema, preciso continuar indagando a vocês: Será que pensamos na etapa de uso? Será que somos doutrinados a pensar que o belo e o funcional devem trabalhar de maneira concomitante?
Será que pensamos nos aspectos de durabilidade e damos a ênfase necessária ao quesito?
São muitas perguntas com uma resposta quase unânime. Em alguns projetos, trabalhamos na contramão da manutenção, o que parece ser uma postura geral, que é ensinada e compartilhada, e, por isso, o questionamento necessita vir desde a base de formação. Deveríamos estar preparando nossos profissionais dentro das instituições para pensarem fora das caixinhas e avaliarem que um imóvel somente pode ser considerado um bem durável contanto que a manutenção seja incorporada à sua rotina.
Ademais, o valor estético do ambiente claramente deve ser ponderado, afinal, ele corresponde à apresentação externa de um sonho idealizado por muitos: ter imóvel belo, harmonioso e que reflete a sua personalidade. Contudo, esse quesito não pode ser a prioridade absoluta, mas sim uma demanda proporcional à funcionalidade e à responsabilidade pelos cuidados que cada item irá solicitar. Portanto, devemos nos atentar para construir sistemas práticos, acessíveis e, sobretudo, seguros, de modo que não haja imprevistos e improvisos, evitando danos aos prestadores de serviço e ao próprio revestimento, quando for o caso. Pense nisso!