Em meio a picos de calor e frio, o aquecimento global está alterando consideravelmente as condições climáticas em todo o globo terrestre, estamos presenciando recordes históricos quando o assunto é a temperatura, e você acha que as edificações ficariam de fora?
As variações sazonais de temperatura podem gerar nos sistemas construtivos efeitos pertinentes à deformação, devido às elevadas amplitudes térmicas, sendo tais deformações conhecidas como trincas e fissuras.
As fissuras e trincas que ocorrem em razão da variação de temperatura são caracterizadas como cíclicas, ou seja, apresentam variações no decorrer do dia, conforme a sua exposição ao sol, ou à temperatura. Essa variação quando associada aos diferentes coeficientes dos materiais que constituem a edificação, podem ocasionar desde fissuras e trincas, até o descolamento e o desplacamento dos revestimentos internos ou externos.
Segundo Silva, Pimentel e Barbosa (2003), as infiltrações e fissuras representam cerca de 80% das patologias encontradas em edificações. Tais condições patológicas decorrentes de fissuras e trincas geram enormes transtornos aos usuários, que sofrem os efeitos desses problemas em termos do comprometimento das condições mínimas de habitabilidade. A exemplo, as fissuras quando incidem nas paredes externas tendem a permitir o ingresso de água para o interior dos imóveis, sendo, assim, uma porta de entrada para colônias de fungos e bolores, condições insalubres à saúde.
Posto isso, associado aos picos de calor e frio, podemos afirmar que as estruturas, assim como os diversos sistemas construtivos, ficaram expostos a temperaturas não previstas preliminarmente na concepção dos produtos, resultando no aumento das manifestações patológicas.
Em busca de reduzir ou equilibrar os efeitos, enquanto profissional da construção, deve-se observar algumas responsabilidades, que não estão limitadas ao setor da construção civil, mas que se abraçada a cauda podemos, juntos, reduzir consideravelmente os efeitos produzidos.
Em relação às edificações antigas, será necessário avaliar os aspectos de temperatura e suas consequências para a elaboração de um plano de manutenção assertivo, não limitando em uma avaliação das condições climáticas atuais, mas a médio e longo prazo, garantindo que os materiais a serem utilizados atendam os coeficientes de deformação que se equivalham, garantindo, portanto, a durabilidade e a interação entre os sistemas. Para edificações novas, as normas técnicas brasileiras precisaram ser submetidas a revisões que compreendam estudos mais aprofundados sobre o comportamento e o alívio das deformações promovidas pela temperatura. Além de exigir e incorporar em todas as construtoras o conceito de manutenabilidade, visando, sobretudo, a redução de resíduos gerados pelo setor da construção. Para os alunos em formação, o estudo da disciplina de materiais de construção precisará incorporar níveis e conteúdos mais aprofundados, e ainda, as universidades devem orientar e instruir os graduandos para a leitura, interpretação e o aprimoramento das normas técnicas, principalmente acerca do planejamento e projeto em busca de uma construção responsável para o meio ambiente e para o mundo. Como papel da humanidade, é necessário controlar a emissão de gases nocivos, cuidar e reduzir os índices de desmatamento que está absolutamente desenfreado, e incorporar ao cotidiano o reaproveitamento e o consumo consciente. Somos todos responsáveis pela mudança do enredo que está se desenhando para os próximos anos. O setor da construção, seja planejamento, projeto, execução e manutenção possuem uma atribuição relevante, cabendo a cada profissional desempenhar seu papel de forma consciente e responsável. O aquecimento global, e por consequência os recordes atuais de temperatura em todo o globo terrestre, podem e devem ser mitigados com ações que envolvam todos os setores. Um simples, mas efetivo projeto que abranja um pensamento voltado para a manutenção predial e o atendimento às premissas normativas podem mudar nosso triste cenário.